Cientistas anunciam descoberta de possível Bóson de Higgs
Pesquisadores anunciaram nesta manhã na Suíça que encontraram uma nova partícula que seria consistente com o que se espera da chamada
Ilustração mostra colisão de prótons medida pelo CMS na busca pelo bóson de Higgs
Cientistas anunciaram na manhã desta quarta-feira (4) que descobriram a existência de uma nova partícula subatômica que se comporta como o Bóson de Higgs. Ao colidir prótons, pesquisadores do CMS e do ATLAS - dois grupos de pesquisa que trabalham de forma independente em busca de Higgs - conseguiram criar no Grande Colisor de Hádron, no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês), em Genebra, uma partícula com massa de 125,3 Gev.
Entenda: Perguntas e respostas sobre o Bóson de Higgs
A nova partícula está na região de massa 125-126 GeV. A observação do ATLAS foi em 126 GeV e a do CMS em 125 GeV. A medida GeV é o padrão para a massa das partículas subatômicas. Um GeV é equivalente a massa aproximada de um próton.
O anúncio acontece depois de, no mês de dezembro, o mistério sobre o Bóson de Higgs ter sido consideravelmente reduzido quando os dois experimentos independentes que acontecem no LHC (ATLAS e CMS) limitaram uma região situada entre 124 e 126 giga elétron-volts (1 GeV equivale à massa de um próton).
Esta unidade de energia é utilizada para representar a massa das partículas seguindo o princípio de equivalência energia-massa (o famoso E=mc2), os dois atributos da matéria.
O principal obstáculo é a margem de erro dos dois experimentos, ainda muito grande, apesar do grande número de dados acumulados, e que obriga os cientistas a falar de "indícios" e não de "descoberta" do bóson.
Otimismo
Mas os cientistas estão bastante otimistas. "Os resultados obtidos pelas colaborações CMS e Atlas do Cern são extraordinários. Há fortíssimos indícios de que estejamos vendo algo novo, com uma massa de aproximadamente 125 GeV. Esse fato é corroborado pelos resultados recentes do Tevatron (acelerador de partículas do laboratório Fermilab, nos Estados Unidos). Apesar dos eventos sugerirem que estejamos diante do Bóson de Higgs, a confirmação de que se trata realmente da partícula predita pelo Modelo Padrão requer medidas comparativas. No entanto, isso ainda poderá levar um certo tempo já que requer que mais dados sejam coletados.", afirmou ao iG o físico brasileiro Sergio Novaes, lider do SPRACE, que armazena e analisa dados do CMS no Brasil.
O trabalho feito pelas equipes do CMS e do ATLAS segue o padrão ouro da Física para novas descobertas, o chamado cinco sigmas. “Equivale a uma chance menor que uma em um milhão de ser uma coincidência”, explicou Novaes no twitter.
As equipes do CMS e do ATLAS irão continuar a analisar os dados dos experimentos e devem publicar seus respectivos artigos sobre o trabalho no final de julho.
Na abertura da apresentação dos resultados, o diretor geral do Cern Rolf-Dieter Heuer fez piada sobre o anúncio que viria. “Hoje é um dia especial porque temos dois experimentos que falam de um certa partícula.... Não lembro o nome, mas acho que as apresentações irão me lembrar". E no final dela afirmou: “Como um leigo eu diria agora: 'acho que o encontramos'. Mas como um cientista, tenho que me perguntar: 'o que encontramos?'. Hoje é um marco histórico. Acho que devemos estar orgulhosos, felizes”.
Joe Incandela, porta-voz do CMS, afirmou que se trata de um bóson, só é necessário ainda saber se é "o" Bóson de Higgs.
Higgs vê sua teoria ser comprovada
A prova da existência do Bóson de Higgs, postulada em 1964 pelo físico inglês Peter Higgs tem um enorme impacto na ciência, já que se trata da única partícula elementar do modelo padrão que não foi observada até agora. O mecanismo de Higgs foi proposto por vários cientistas nos meados da década de 1960 como uma forma consistente de se construir uma teoria contendo partículas com massa. Depois foi incorporado a uma teoria descrevendo as interações fracas e eletromagnéticas, o hoje chamado de Modelo Padrão. Desde então vem-se buscando descobrir a partícula remanescente desse mecanismo, o Bóson de Higgs. “Quero congratular a todos. Fico muito feliz que tenha acontecido enquanto estou vivo”, afirmou Higgs, atualmente com 83 anos, que se emocionou ao ser convocado para falar no final da apresentação dos cientistas do Cern.
O apelido de "partícula de Deus" foi cunhado pelo físico Leon Lederman, mas é mais usado por leigos, como um modo mais fácil de explicar como funcionam as partículas subatômicas e sua importância.
"Estou estupefato com a incrível velocidade com que os resultados foram obtidos", afirmou Higgs em um comunicado divulgado pela Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Caso não consiga ver o vídeo, clique para assistir na TV iG: Cientistas anunciam descoberta da possível ´partícula de Deus'
Quando escreveu o artigo propondo a ideia de que uma partícula seria responsável por dar massa a todas as outras partículas do universo em 1964, Higgs teve seu artigo sobre o tema rejeitado pelo periódico “Physics Letters”, editado pelo Cern. “Achei que talvez porque fosse muito pequeno. Apenas um lado de um A4.”, afirmou Higgs em entrevista transmitida pelo Cern. Higgs, no entanto, não se abalou, escreveu um pouco mais e tentou o “Physical Review Letters” que aceitou e publicou o texto.
"Nunca pensei que assistiria a algo assim em vida e vou pedir para minha família que coloque o champanhe na geladeira", completou o cientista. Veja o vídeo:
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