segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
O fim do mundo está gravado na mente humana... Da New Scientist
É fácil zombar dos fundamentalistas religiosos, mas os cenários apocalípticos não são exclusividade da religião.
Profecias do fim do mundo
Por que as profecias do fim do mundo fazem tanto sucesso?
Ano após ano, profecias de algum tipo ganham atenção do público, de calendários antigos e êxtases religiosos até o colapso ambiental do planeta.
E todos esses pregadores parecem seguir um roteiro comum: uma etapa de destruição e devastação, seguida por um renascimento, quando "finalmente as pessoas entenderão...", seguindo-se aqui a mensagem de cada um.
Arquétipo
O arquétipo dessas profecias é o mito do dilúvio, do qual o mundo renasce depois de ser lavado de algum tipo de pecado.
A mais recente encarnação desse mito de destruição e redenção foi apresentada ao mundo pelo pastor evangélico e radialista Harold Camping, nos Estados Unidos.
Originalmente previsto para ocorrer em 21 de Maio, o fim do mundo foi adiado para outubro tão logo raiou o 22 de Maio.
Mas, a partir de Novembro, os entusiastas do apocalipse não ficarão despreocupados: eles poderão ficar esperando uma pretensa previsão do calendário Maia, marcada para Dezembro de 2012 - um fato curioso é que esta parece ser a primeira previsão em que os "previsores" acabaram antes do mundo.
Fim do mundo cientificista
É fácil zombar dos fundamentalistas religiosos, mas tais cenários apocalípticos não são exclusividade da religião.
Fins-do-mundo seculares podem ser encontrados no fim do capitalismo de Karl Marx ou no fim da história de Francis Fukuyama.
Bem acompanhados pelos apocalipses cientificistas trazidos pelo aquecimento global, eras glaciais, tempestades solares, planetas errantes, colisões cósmicas, supervulcões, superpopulação, poluição, inverno nuclear, vírus geneticamente modificados, nanorrobôs fugidos de laboratórios de nanotecnologia... pode-se escolher a versão mais a gosto de cada um.
O famoso físico Stephen Hawking, advertiu a humanidade que o contato com extra-terrestres poderá resultar em nossa escravidão ou extinção - outro tipo de apocalipse.
É claro que ninguém se importa mais com a última profecia que falhou - alguém ainda se lembra do Bug do Milênio? O que interessa é acreditar que "a coisa, desta vez, vai mesmo para o brejo".
Dado que, por definição, só pode haver um apocalipse, a maioria continuará falhando.
O arquétipo das profecias do fim do mundo é o mito do dilúvio, do qual o mundo renasce depois de ser lavado de algum tipo de pecado.
Psicologia do apocalipse
Mas por que, então, continuamos a sentir tanta atração por essa narrativa básica? Qual é a psicologia por trás das profecias apocalípticas, tanto religiosas quanto seculares?
Segundo os pesquisadores, a resposta está nos processos emocionais e cognitivos do nosso cérebro.
Emocionalmente, o fim do mundo representa uma renovação, uma transição para um novo começo e uma vida melhor pela frente.
Nas narrativas religiosas, Deus castiga os pecadores e ressuscita os virtuosos. Para os secularistas, os pecados da humanidade são expiados por meio de uma mudança no nosso sistema político, econômico ou ideológico.
Prognósticos de calamidades ambientais são normalmente seguidos de censuras e recomendações sobre como podemos "salvar o planeta".
Os marxistas projetam comunismo como o clímax de um processo libertador de vários estágios que exige o colapso do capitalismo.
Os defensores da democracia liberal proclamaram o fim da história quando a Guerra Fria foi vencida por esta democracia liberal.
Padrão cerebral
Cognitivamente, existem vários processos em andamento, começando com o fato de que nossos cérebros adoram buscar padrões.
Considere este experimento imaginário:
Você é um hominídeo nas planícies da África, alguns mil anos atrás. Você ouve um barulho na grama. É apenas o vento ou é um predador perigoso?
Se você assumir que é um predador, mas for apenas o vento, você fez o que é chamado de erro tipo I na ciência cognitiva, também conhecido como falso positivo, ou acreditar que algo é real quando não é.
Você conectou A, o farfalhar da grama, a B, um predador perigoso, mas não sofreu nenhum dano com esse erro.
Por outro lado, se você assumir que o barulho na relva é apenas o vento, mas verificar que era na verdade um predador perigoso, você fez um erro do tipo II na cognição, também conhecido como falso negativo, ou acreditar que algo não é real quando é.
Você falhou em conectar A a B, e virou almoço do predador.
Segundo os cientistas, imaginar apocalipses é uma forma de procurar padrões baseados em nossa percepção cognitiva da passagem do tempo.
Até que se prove o contrário
O problema é que avaliar a diferença entre um erro tipo I e um erro tipo II é altamente problemático na fração de segundo que muitas vezes determinava a diferença entre a vida e a morte em nossos ambientes primordiais.
Isso fez com que adotássemos como default - uma posição padrão - assumir que todos os padrões são reais. Em outras palavras, assumir que todos os ruídos na grama são feitos por predadores.
Assim, houve uma seleção natural para o processo cognitivo de assumir que todos os padrões são reais.
Tempo e causalidade
Imaginar apocalipses é uma forma de procurar padrões baseados em nossa percepção cognitiva da passagem do tempo.
Nós conectamos causalmente A a B a C a D porque eles estão conectados em ordem cronológica.
Ainda que ocasionalmente eles formem padrões falsos, no mundo natural eles estão ligados com uma frequência suficiente para que, em nosso cérebro, tempo e causalidade mostrem-se inseparáveis.
Sentido para o mundo
As visões apocalípticas também nos ajudam a dar sentido a um mundo muitas vezes aparentemente sem sentido.
Diante da confusão e do nosso próprio aniquilamento, precisamos buscar sentido e segurança.
Nós queremos sentir que, não importa quão caótico, opressivo ou mal o mundo está, tudo sairá bem no final.
O apocalipse, com o sentido de fim da história, torna-se aceitável quando acompanhado da crença de que haverá um novo começo.
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